SIMONAL E AS PATRULHAS

LI faz uns dias na FALHA de S.Paulo uma matéria sobre o filme NINGUÉM SABE O DURO QUE DEI, que conta e mostra a vida e o percurso de Wilson Simonal. A FALHA, como sempre, em vez de discutir o filme, prefere discutir a ditadura militar, com a qual foi conivente até que isso deixou de ser de seu interesse. Teve uma crise de Jaguarice, fazendo uso de informações já negadas e reveladas como não sendo reais, para mais uma vez provar a dedurice e a negrice do Simona. Pois se a própria justiça brasileira já o isentou de qualquer participação no que quer que seja... fato que infelizmente não chegou ao conhecimento do "jornalista" em questão.

A história é mal-contada e pior realizada, mas se processou de maneira muito simples: um dia ele pediu a dois amigos da policia que dessem uma prensa no contador que o tinha roubado. Isso foi feito no próprio escritório do Simonal, ali na av. Princesa Isabel, RJ, o que configurou cárcere privado, não tortura. Quando o contador, depois de tomar umas porradas, devolveu o dinheiro, saiu dali e foi direto à policia fazer uma queixa: os repórteres policiais, cheirando uma grande chance, deram destaque ao assunto nas manchetes, e logo depois O PASQUIM tornou-se dono de uma campanha incessante e incansável contra ele. A bola de neve foi-se avolumando, a partir disso, alimentada pela inveja ( "o sucesso é sempre uma ofensa pessoal", como dizia o Tom ) e pelo racismo mais ou menos declarado ( "crioulo dedo-duro filho-da-puta" passou a ser o apelido do Simona ).

O contador foi quem disse, na sua queixa, que o Simona avisava durante a sessão de porradas: "não brinca comigo, eu sou amigo dos hômi, devolve a grana e fim de papo". Foi esta a frase que deflagrou tudo. A imprensa foi atrás de ligações entre o Simonal e a policia, encontrando um monte de tiras, inclusive do DOPS, que eram seus admiradores, seguranças e amigos pessoais, alguns dos quais se dispuseram até a ir prestar depoimento a seu favor, o que só agravou a sua imagem de "colaboracionista". Sem duvida, ele tinha amigos na policia: mas quem não tinha, ate para poder livrar-se de alguma roubada eventual?

A arrogância do Simonal foi o que o detonou: ele certamente acreditou que o próprio sucesso era para sempre, sem perceber a quanta gente o seu sucesso incomodava, alem da má-vontade que ia se criando em torno dele. O proprio PASQUIM ja vinha dando sinais claros disso: PAIS TROPICAL, na voz de Jorge Ben, era uma maravilhosa música de esquerda, mas na voz do Simonal era chamado de "hino da ditadura", e isso pode ser visto em vários números do jornal, às vezes na mesma página.
O caso todo é uma mixórdia, em que ninguém foi humano ou coerente: todos os participantes só mostraram o pior que tinham dentro de si. O jornalista da FALHA, neste caso, esta agindo exatamente como os jornalistas "de esquerda" da época, aqueles que mais tarde se transformaram na Patrulha Ideológica, tentando transformar depoimentos pessoais de policiais em prova concreta de colaboração do cantor com a ditadura, na certa desejando fazer novamente acontecer a mesma "caça-às-bruxas" que se prenunciou naquele momento, e que durante algum tempo vendeu muuuito jornal.
Na verdade, nós todos nos afastamos do Simonal para não sermos confundidos com ele. E isso não foi feito só com ele, mas com outros negros de destaque da época, que também comeram o pão que o diabo amassou, com a nossa conivência.

1. Erlon Chaves, ao apresentar a música ( EU QUERO) MOCOTO, de Jorge Ben, no Festival da Canção, cometeu o "pecado" de, em pleno palco, na noite da finalíssima, fazer um entreato romântico à la Barry White, dançando e acariciando suas duas coristas, que eram louras. Na saída do palco, foi gadunhado por um choque da PE e levado para LINS ( Lugar Incerto e Não Sabido) onde passou três meses tomando porrada para aprender o seu verdadeiro lugar. Uma mulher de general cinco estrêlas tinha ficado ofendida e exigiu do marido que o prendesse: não havendo mandato, foi na clandestina , mesmo. Ele nunca mais voltou ao normal e morreu menos de um ano depois, das seqüelas deste periodo.

2. Tony Tornado surgiu com BR-3, uma soul-waltz de Antonio Adolfo e Tibério Gaspar, que até hoje o ESG usa como exemplo de "apologia ao vício": para os milicos a imagem " um jesus cristo feito em aço" significa uma seringa cheia de droga...(rssss) já estavam de olho no negão, por causa de sua aparência black-power, seu punho erguido à la Eldridge Cleaver no fim da musica. Aí ele tomou a Arlete Sales do Lucio Mauro: ANATEMA! VERGONHA! PODRIDÃO! um preto com uma loura? ISSO DEVIA SER PROIBIDO. Começou a ser perseguido pela imprensa, e ai, no festival de Guarapary ( eu sou testemunha) se atirou do palco para ser apanhado pela platéia, caiu de mau-jeito, uma menina foi cooptada para fazer o papel de sua vítima, alegando ter ficado com uma lesão no pescoço e ele pegou uns dias de cadeia para deixar de ser abusado. Viajou pra fora do Brasil porque a imprensa montou contra ele uma verdadeira campanha de destruição, em todos os jornais sanguinolentos. Só recuperou prestígio quando fez ( muito bem) o papel de GREGÓRIO FORTUNATO na minisserie AGOSTO, da Tv Globo.

Recomendo que leiam " O GOGÓ DE AQUILES" escrito pelo Aquiles do MPB-4 ( ed. A GIRAFA): ele conta a mesma historia e tem a mesmíssima posição que eu, o que é no mínimo sintomático. Eis um momento muito feio de nossa vida artística, que precisa no mínimo de uma seriíssima auto-crítica.

Zé Rodrix
Junho, 2008

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